Mensagem
por 0014 Carlos Cordeiro » sábado jun 16, 2012 10:37 pm
Parabéns ao proprietário por tão raro exemplar, à Auto-Vianense por tão primoroso restauro.
Estas fotos trouxeram-me à memória um episódio que li há uns anos, num livro intitulado Dez Milhões de Carochas de Saint-Loup relacionado com o fabrico do Schwimmwagen, que reli e passo a resumir:
Em Dezembro de 1941, o rigoroso Inverno de neve na Prússia Oriental, com 50º negativos, criou sérias dificuldades ao exército alemão, mal equipado para resistir a tão baixas temperaturas. Foi inventado então o fogão de trincheira, um simples cilindro de chapa, soldado por pontos. A fábrica Volkswagen foi encarregada da produção de 1.200.000, que deveriam chegar à frente de combate antes de 15 de Janeiro de 1942.
Na fábrica Volkswagen, começavam a trabalhar às 6:30 da manhã, 16.000 homens e mulheres, vindos de todos os países da Europa. A maioria soldados prisioneiros, uma minoria de civis, que o exército alemão arrebanhava nas cidades ou vilas que ocupava e despachou para a fábrica VW. No grupo de franceses enviados nestas condições, destaca-se um torneiro mecânico, de apelido Méricourt, a quem foi distribuída uma máquina de soldadura por pontos e não um torno. Contrariado por ter sido desterrado, sem qualquer culpa e não trabalhar na sua arte, passava muito tempo com as mãos nos bolsos, a observar uma colega ucraniana que trabalhava também com uma máquina de soldadura. Enquanto ela fazia 10 pontos de soldadura num fogareiro, o Méricourt fazia um...gritando de vez em quando: " a soldadura não é o meu ofício!!!" "Não gramo trabalhar para os boches!""Se me tivessem posto como torneiro nesta fábrica, mesmo contrariado, fazia bom trabalho". "Fazer uma peça ao torno mal acabada, não era capaz!" "Mas soldar à balda, que se lixe!"
Quando o VW anfíbio Schwimmwagen começou a ser fabricado, o Méricourt mudou de táctica: Passou a soldar mais rapidamente...mas sempre em zig zag. Terá sido por isso que um colega de trabalho, Prétot, ouviu um engenheiro aos berros com o chefe, afirmando que 40% dos Schwimmwagen voltavam à fábrica, porque metiam água.
Em data não mencionada, mas que presumo ser na década de 60 do século XX (a avaliar pela cadência de produção das linhas de montagem: Um VW sai pelos seus próprios meios, a cada 6 segundos, durante 16 horas), a Volkswagen de França, freta um Boeing 707, que transporta uma centena de ex-trabalhadores da fábrica VW do tempo da guerra, até Hannover. Três autocarros da Fábrica conduzem-nos a Wolfsburg, para uma visita guiada à cidade e à Fábrica.
A organização turística da Fábrica que lida com 2.000 visitantes todos os dias, leva os franceses, não com visitantes, mas como peregrinos, a reviver no local completamente transformado e ampliado, as tristes memórias a que foram forçados. Entretanto o Méricourt pára e exclama:"Olha! era ali o meu posto de soldadura!!!"
Assim termina a história do Méricourt, o cidadão francês, que sabotava as carroçarias do Schwimmwagen, soldando enviesado.
